quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Nas Terras dos Confins do Mundo

Quem iria dizer que paisagens tão cheias de vida e poesia formariam a imagem dos Confins da Terra?
Alice, criança ainda em suas feições e velha bondosa em seu coração, analisava com cuidado cada pedaço do quadro sublime que se desenhava em sua frente e o único defeito que via era sua própria e desarmônica presença. Não era natural! Sua roupas eram caras, seus sapatos desgastados no caminho ainda reluziam, sua pele mantinha o bom cheiro. Mas, ali, longe de tudo, onde não havia como seguir adiante, era seu lugar, o que inspiraria seu último fôlego e, como todas as Alices, Clarices e Janices, como todos os Paulos, Mauros e Lauros, como todos os pássaros, flores e pandas, como todas as lesmas, besouros e aranhas, se entregaria e comporia os Confins.
Chorando como um gato, nasceu num dia comum e nenhum jornal publicou o cometa que iluminou o céu naquela manhã. Ninguém viu. 
Cresceu sozinha, como crescem aqueles que estão destinados a grandes coisas; nunca encontrou alguém que entendesse a vida, todos queriam um brinquedo, um namorado, um presente, ele queria dançar ou contar histórias. Estudou pouco, já sabia tudo que precisava, sabia que o sol era quente e passeava pelo céu, sabia que passarinho nascia com o dom de cantar e sabia que a morte é mais leve para quem ama. Não queria saber dos livros de Geografia, queria viajar. Não precisava de saber Matemática, pois sabia que uma andorinha só não faz verão. Não precisava de nenhuma língua, pois se expressava com olhar. Parecia muda.
Virou Profetisa.
No fundo do seu quintal, perto da cerca, encontrou o deserto por onde perigrinou. Foi tentada três vezes pela Joaninha que sabia voar. Alcançou o voo quando fechou os olhos e, numa noite nublada, caiu na tentação e se vestiu de joaninha. Após quarenta minutos, estava pronta para sua missão.
Entrou em casa pela portas dos fundos, sua mãe perguntou o que queria pro jantar, sopa. No quarto, arrumou o cabelo e se vestiu de azul, o pingente de coruja no lado esquerdo do peito, os sapatos pretos cheiravam à graxa. Saiu sem despedidas e nem perceberam que faltava alguém no jantar.
Na praça da sua vila tristonha, um chafariz tornava ainda mais melancólica a luz do luar, e com suas águas brincava um menino pequeno que cantarolava um canção familiar para Alice. Quando se aproximou, o menino virou com seus olhos grandes e disse: "Nos Confins da Terra encontrará seu destino" e apontou a estrada suja e medonha, de onde só vinham histórias tristes e assustadoras e era bem sabido que nos Confins, como tudo mais, Alice encontraria seu fim. 
Nunca soube de alguém tão nova rumando por aquele caminho, nunca soube de alguém voltando daquele caminho, o murmúrio contínuo que vinha de lá trazia consigo gemidos de dor ou de amor que não se podia suportar. Mas, mesmo com um medo de quem come algo novo, sujou seu sapato na primeira poça de lama que encontrou no caminho.
O caminho era como todos caminhos que não levam a lugar nenhum e descrevê-lo seria entediante e sem propósito. Importante é dizer o que pensava Alice, sentada numa pedra chata, enquanto admirava a visão dos Confins do Mundo.
Sentada ali, pensava no seu caminho com certa dúvida; por ora, achava que permanecia em sua cama e sonhava com terras estranhas, cheias daqueles seres fantásticos, talvez imaginários, chamados de gente. No caminho, encontrara um homem que lhe ensinara as usar as pernas para dançar. Uma moça que usava uma trança de cabelos pretos e flores. Um garoto que escrevera uma poesia sobre amor. Um senhor que demorava um dia para chegar à cozinha. Uma mulher que não sabia dormir. E árvores de mais de 30 metros, borboletas com cores brilhantes, pássaros falantes, cachorros empolgados que lhe surravam o vestido, um espelho de água em cujos reflexos não se reconheceu e uma cachoeira que imitava o som de seus sonhos. Com ninguém disse uma palavra sequer, mas a todos, com o olhar, transmitiu o que sabia sobre a vida, e todos lhe agradeciam com pão e chá. 
E numa curva à esquerda, sabia que tinha chegado ao seu destino. O paraíso, se me permitem, não é tão bonito, a natureza intocada, o som de cantos e de águas, o caminho com pedrinhas de brilhantes não se faziam confundir. Ali, onde ninguém vivia, a paz era absoluta. Ali, onde não havia teto para oferecer proteção, Alice se encontrou. Sozinha, sem uma alma que lhe dirigisse um olhar falante, ela deitou e beijou a grama que cobria o chão; a grama vibrou com o carinho recebido, envolveu o corpo fino de Alice e fez dele um punhado de pó que tornou mais lindo o lugar em que jazia. 
Nesse momento, um cometa cruzou o céu, e na cidade de Alice, um menino sorriu.


Um Caminho para Esquecer

Por sua amada Dulcineia, Dom Quixote valentemente se colocou a frente de gigantes-moinhos, defendendo aquela que lhe inspirava tão belos sentimentos. O Amor é a força-motriz de cada uma de nossas ações e a nossa busca pelo belo leva-nos os atos mais sublimes e também aos mais torpes.
O Amor é certamente minha força, não acredito que consiga dar um pequeno passo, senão por Ele. E Ele que me torturou seguidamente, que de joelhos implorava por socorro sem ver saída, Ele que me levando aos poucos ao desepero e à angústia, me deu forças para fazer a única que consigo fazer quando me sinto fraco, eu fujo. Estou fugindo, fingindo...
Para que estrada se adorne de flores é necessário que se revire a terra.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

A Máscara


A sala tinha as paredes extremamente brancas, como nenhum tecido pode alcançar, eram lânguidas, compridas, uma criança diria que elas certamente encostavam no céu. O chão se mostrava num belo mosaico, que formavam figuras históricas e contos de amor. A sala era quase completamente vazia, apesar de suas dimensões exageradas, o que dava ao som uma capacidade única de ecoar e ecoar, sem nunca deixar de existir, o único móvel visível era uma cadeira firme que formava o estranho símbolo de uma cruz onde podia se ver os escritos: “Força e Poder”, na vertical, e “Amor e Dor” na horizontal. Em frente a essa cadeira estava uma mulher cujos cabelos enrolados e caídos até o meio de suas costas eram mais negros que se possa imaginar, os olhos também assim tão negros e de insolúvel reação a qualquer detalhe a sua volta e como na cadeira, neles, se lia claramente os mesmos dizeres.  Uma capa de cetim vermelho deitada ao chão, tirada há tão pouco tempo pelos seus movimentos, indicava qualquer tipo de nobreza de sua bela dona.  O que a capa anteriormente escondia aos olhos era um corpo fino de uma cor branca como se refletisse ou fosse molde àquelas paredes, vestido com simplicidade e bom gosto, num pequeno vestido azul.  Aquela mulher que de maneira alguma se deixaria passar despercebida olhava com tanto pesar, com tanta piedade e amor, e todo desejo, um homem comum, de vestes tão mirradas que não mereceriam nenhuma descrição, que ajoelhado aos seus pés respondia ao olhar daquela com intensidade e confusão.
Aquela imagem estática, que parecia planejava por um deus que não queria nela por um fim, se estendeu por um tempo que não pude calcular; qualquer observador, mesmo relapso, se deixaria envolver nela, se sentiria tão parte dela que não pensaria em mais nada, não desejaria ver mais nada, como se a vida se resumisse àquele momento e depois desse se extinguiria deixando tudo sem nenhum propósito além de estar ali, parado, observando aquela mulher e homem, com os olhares sólidos, apontados feitos armas de guerra, encostados feitos lábios durante um beijo, tão conectados que agora me confundo com outros detalhes. Não seria o homem que real se mantinha em pé? Ou a mulher que maltratada implorava ao chão? Seria dia? Existiu aquela sala? O que me importaria qualquer uma dessas respostas se aquela troca de sentimentos, se aquele fio prateado que ligava os olhares de um ao do outro simplesmente se rompesse? Por que nasceria eu senão para parar ali e observar?
Nenhum movimento, a estética mantida na mente do artista, o quadro rubro riscado em negro dava a forma. Os olhares fixos demostravam almas irrequietas, implorando por mais silêncio, que tempo esquecesse seus passos lentos, que as crianças não crescessem, que um novo amor não surja, que o velho não morra; mas uma lágrima decidiu quebrar aquela paz, como a neve no final do inverno, aquela lágrima mudou o mundo, deu à cena um ar vivo, aquilo que não passaria de uma obra num museu em que todos pudessem ver seus próprios rostos naquelas personagens, naquela momento, respirou. A pulsação ganhou seu ritmo usual em meu peito que arfava. No rosto do homem que ali se ajoelhara em silêncio, a lágrima retumbou, escorreu e não foi limpa. Sob seus joelhos os mosaicos antigos se trincavam e moviam, recriando a bela cena há pouco interrompida; ao mundo a desgraça de se perder a sua beleza nunca mais replicada. O som era minha agonia, a lágrima não queria se calar. Da parede escorria o lodo com seu fétido odor, maculando a alva parede em verde, e tremia. A beleza teve um fim; amores de manhãs frias.
Ele disse: “Quero viver. Ordena-me”.  Como a lua, no crepúsculo, repetidamente diz ao sol, ele disse: “Quero viver. Ordena-me”. Ordem banal; sem motivo. Há quem viva, eu vivo, por esse momento eu vivera e por ele darei meus dias, escreverei contos e poemas e farei de sua imobilidade, a paixão de minhas noites e suas canções. A ordem seria clara: Viva! Era o que ele queria, vida. Dar-lha-ia eu, se a tivesse em abundância, dar-lha-ia eu, se minha própria vida não se resignasse a ser uma observação. A lágrima ao chão era a única que poderia nos dizer que vida era essa que ele, de joelhos, implorava, mas já se tornara pedra, já compunha o mosaico que lutava para refazer a cena e também implorava vida.
Ela, com um passo, conseguiu levar ao rosto do homem seus dedos. Eles o lamberam, estão frios e úmidos, gozavam de total liberdade e consciência, como se conhecessem aquele rosto.  Cúmplices, dedos e face guardavam o segredo do amor, que ali morreria e aos homens seria vedado. “Tua face se contorce a chorar; sorria, coloque essa máscara triste que agora te dou. Sorria e viva.”

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Minha Poesia


Minha poesia não se encontra nessas folhas amassadas, cheirando a mofo, em grandes bibliotecas. Minha poesia não foi cantada por trovadores, não encontrou a paixão dos românticos nem se estreou nos teatros. Minha poesia não foi recitada, cantada, sequer lembrada. Não está na natureza, no arfar obsceno dos amantes ou nos seios fartos da ama de leite. Ela não ajunta, não destrói, não pode ser lida em alta voz. 

Minha poesia foi escrita nas cavernas, é antiga como o pecado de Eva no Paraíso e dela nasceu o fogo. Foi lentamente comida pelas traças, arrasta pelas águas da chuva, dada aos porcos famintos. É escura como os olhos de um louco, ressequida como a ferida leprosa, fétida pela podridão que encerra.

Minha poesia é a vida e a solidão macondiana. É os sonhos frustrados do jovem apaixonado, é os livros guardados sem ler, é aquela tarde que ninguém reparou a cor. Todo tempo que se perde, todo beijo sem amor, todo adeus que machuca, cada uma dessas misérias humanas dão à luz minha pobre criança versada. Versada no saber que não serve a ninguém. Versada na angústia que tempera as noites. Minha criança que nasceu morta e não há terra que caiba seu corpo fino.

Minha poesia é a morte e a ilusão da salvação. Na minha poesia, crucificamos deuses e lhes agradecemos o peixe que nos farta a mesa. Nela, toda pele é inútil, todo músculo, somos ossos e vísceras, famintos por tão fraca salvação. Minha poesia me salva de toda felicidade. Caio no mais profundo poço e a encontro úmida e enrugada, latejando prazer.  Do meio de suas pernas, escorre o fel da sua melhor cria: a dor. 

Queimariam minhas palavras rotas, se pudessem, lançá-las-iam aos cães, se os tivessem, expurgariam todas minhas dores, se as conhecessem. Mas não há quem as encontrem, sejam as palavras vomitadas ou as dores abraçadas, minha poesia as esconde por baixo desse sorriso leve e juvenil. Por baixo dessa roupa feita sobre medida, dessa pele com perfume de suor, uma alma sangra e clama liberdade. Faça desse dia tua última lembrança, chora ela desafortunada.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Double Rainbow


No lado leste das Montanhas Viradas para o Oeste, nasce um Rio. No príncipio dos tempos, surgiu em suas margens uma parca civilização sem valor nenhum, os homens que lhe deram origem puderam ver o nascimento desse Rio e o que exatamente aconteceu é contado assim:
"Quando Deus e a Deusa se uniram e criaram o Universo, o Sol e a Terra, com todos os seres que ali viviam, homens, animais, plantas, a última era completamente seca e sempre que os seres necessitavam de água, a Deusa fazia descer do céu a chuva, cujas águas todos os seres eram capazes de estocar e assim eles se mantinham por alguns dias. Deus, que é bom, via sua amada mulher desdobrar-se em esforços sobredivinos para saciar a sede daquele povo, a que ela desprendia toda sua atenção e cuidava como se fossem as pessoas rosas prontas a desabrochar, e a benevolência de sua esposa para tão insignificantes seres moveu seu coração que por toda a Terra pode se ouvir as batidas fortes que anunciavam como trombetas a ação do Rei.
Tomado por criatividade artística de Criador, Deus tomou sua esposa e a deitou sobre as Montanhas Viradas para o Oeste, com a precisão de um médico, enfiou sua mão no útero dela e retirou um dos seus ovários, o qual assoprou. O ovário, sobre a ação de fluido tão puro, se fez água e ela foi posta sobre as Montanhas, descendo-as devagar, formando por onde passava o Rio. A chuva se tornou desnecessária e nunca mais ocorreu."
O Rio tinha Alma que era límpida como seu leito, brilhante como sua superfície e refrescante como as muitas águas que corriam. Ele tinha a capacidade de por onde passar deixar tudo mais feliz, as pessoas que sua água bebiam diretamente sentiam alívio de suas dores e o seu balançar podia embalar bebês, pois sua correnteza mansa nunca os levava para longe de suas mães. O Rio ia até o fim da Terra, mas a Terra não tinha fim.
Após anos de completa harmonia, o Sol pediu ao Rio que se esforçasse e lançasse no ar algo de suas águas, porque tinha tido uma ideia e seria ótima. Diante de tal pedido, todos os homens se ajuntaram às margens do Rio, ele, por sua vez, se contorcia e se revirava tentando desprender de si um pouco de água. Passados dois longos meses em que nenhum progresso era feito, algumas águas se desprenderam e subiram aos céus. O Rio logo exclamou sua vitória, o Sol fez força para aumentar o seu brilho, as pessoas olhavam curiosas para cima, quando a água e os raios solares fizem no céu um arco, colorido e brilhante, algo que ninguém nunca tinha visto igual, até os Deuses se encantaram e lhe chamaram arco-íris.
Aquele espetáculo começou a ser constante por anos e sempre que acontecia, os homens tiravam folga de seu afazeres praa olhar o céu e os Deuses assopravam vida por toda a Terra.
Quando a visão do arco-íris já não deva tanto prazer, o Sol decidiu aumentar a potência de seus raios e tentar a chance. Na hora marcada, o Rio se contorceu, jogando água no ar e o Sol gritou de dor aumentando muito o seu brilho, desse movimento surgiu um arco-íris duplo que se fixou no céu, levando todos os habitantes da Terra à total contemplação. O dia se foi, a noite chegou, e o duplo arco-íris permanecia preso à abóbada celeste.
O Rio que sereno continuava a descer pelas terras admirava o arco-íris e pensava que nem os Deuses eram tão belos e antes que o Sol nascesse outra vez, caia apaixonado pelo arco-íris. A partir de então, em sua função, trabalhava, sem tirar os olhos daquele arco que cortava o céu e das suas margens, saia melodias harmoniosas que a todos diziam de amor. Durante o dia, descia seu caminho como sempre havia acontecido e, pela noite, se contorcia e se esforçava para alçar o céu, sem conseguir êxito nenhum.
Séculos se passaram, o arco-íris continuava colado ao firmamento, o Rio, seu amante, continuava a tentar em vão lhe por as mãos, lhe tocar os lábios, sentir o cheiro, e só corria seu caminho dia após dia. Suas águas se tornaram grosseiras, seu sabor, pestilento, seu brilho se esvaecia... Em dor, o Rio derramou uma lágrima em sua margem, e depois outra, até que um pranto se escoasse e muitas lágrimas lhe cobrissem a margem, tão forte era o choro, que as Montanhas Viradas para o Oeste se viraram para o leste para saber o que acontecia. Como nada o fazia parar, pois sua dor nunca fora conhecida na Terra, o Rio transbordava e ocupava todo o chão que antes eram onde os homens plantavam e viviam, esses, amendrontados, fugiam a lugares mais altos e pediam misericórdia dos Deuses.
Vendo tanto sofrimento sobre a Terra que fora criada para ser feliz, os Deuses destruiram o arco-íris no céu, seus pedaços caiam sobre o chão e sobre o próprio Rio, que, ao sentir sobre si a textura leve e agradável de sua amada, acalmou-se. Entretanto, nas terras baixas, o Rio se tornara imenso de modo a não ser possível ver um único pedaço de terra. Os homens, tranquilazados pelos Deuses, desceram para perto das águas e as provaram, "Águas de dor, águas salgadas de dor!".
Águas salgadas, turbulentas, escuras e sem fim. Águas de dor.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Orações




Quero partilhar com vocês belos textos que me estão fazendo muito bem por esses dias de trevas pessoais!


O Peregrino do Senhor
Altiva Noronha

Senhor!
Eu gostaria de servir,
Gostaria de dar o meu contributo
em favor de um mundo melhor. Gostaria de ser grande e nobre,
para que a dor batesse em retirada da Terra.
Eu gostaria de ser como uma Via-láctea de estrelas,
Para que as noites da Terra fossem mais belas!
Mas ante a minha pequenez, Senhor?!
Não podendo, então ser uma Via-láctea,
deixa-me ser um pirilampo na noite escura,
Iluminando a amargura
de quem vive na escuridão.

Eu queria ser como a chuva generosa,
que caísse sobre a terra porosa
e reverdecesse o chão.
Mas, se eu não o conseguir,
eu te venho pedir
para ser o copo de água fria,
matando a sede, a agonia,
de alguém que está na desesperação.

Eu queria ser como um jardim de flores
de todas as cores,
para embelezar a Terra,
mas, na pobreza que minha alma encerra,
se eu não puder ser um jardim,
deixa-me ser uma flor solitária
na rocha colocada,
para dar beleza
e dignificar a natureza.

Eu queria ser um trigal maduro,
para repletar a mesa
da Humanidade com o pão!
Mas se eu não o puder,
aqui estou a rogar
para ser um grão
que, caído no chão,
se transforme num milhão
e atenda à fome inteira da multidão!

Senhor!
Eu gostaria de ser a montanha altaneira,
donde se tivesse a visão da Terra inteira,
mas, como nunca o hei de conseguir,
aqui estou a pedir
para ser uma pedra
pavimentando o caminho por onde seguem os heróis,
ou uma escada
para ajudar a subida dos homens.
Mas, se eu não o lograr,
deixa-me ser o primeiro degrau...

Eu queria, sim
ser poeta,
orador,
esteta,
artista,
prosador,
para cantar a magia,
a poesia,
a beleza da Tua Mensagem
de eterna pujança!
Mas, como me faltam o estro,
a palavra,
a tinta,
a empatia,
deixa-me, Senhor,
ficar à sombra de uma árvore
no caminho,
para quando passe alguém
de mansinho,
eu lhe diga:
- “Olá, meu amigo!”
E ele, olhando-me,
Possa perguntar quem sou
E eu lhe responder, tranqüilo: “Sou teu irmão.
Dá-me tua mão.
Irei contigo..."

Ó Senhor!
Muito obrigado,
porque nasci,
porque creio em Ti.
Muito obrigado!


Oração de São Fracisco de Assis

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor; Onde houver ofensa, que eu leve o perdão; Onde houver discórdia, que eu leve a união; Onde houver dúvida, que eu leve a fé; Onde houver erro, que eu leve a verdade; Onde houver desespero, que eu leve a esperança; Onde houver tristeza, que eu leve a alegria; Onde houver trevas, que eu leve a luz. Ó Mestre, Fazei que eu procure mais Consolar, que ser consolado; compreender, que ser compreendido; amar, que ser amado. Pois, é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Ensaio sobre a Dor

A Dor é o mais belo de todos os sentimentos. Sim, um sentimento. Claro, aquela que vai além do que é físico. É aquela Dor que se sente nas veias, pulsando forte, e sai pelos poros, exalando seu cheiro doce e pesado. Essa Dor que não passa, que continua se sentindo em meio a alegria e a bebedeira, persiste ao sono e ao Prozac. É essa Dor que traz à vida sua beleza mais plena.
É pela Dor que os homens crescem, é pela Dor que tomam consciência de si, suas verdades. Na Dor, o homem encontra seu tesouro mais precioso, ele encontra seu próprio Espírito. A Dor é nascida do Amor, o Amor que, primeiro, se escondeu, depois, se deu e, enfim, se revelou. Das águas tortuosas do Amor, nasce a calmaria trazida pela Dor. É por Ela que o homem sabe que tem que continuar, se levantar e ir à luta, se embebedar de Amor e Paz. É por ela que a História progride e a Ciência se faz. O Sol só se levanta pela manhã por causa da Dor dos homens, o mesmo se diz das nuvens que descarregam-se para limpar o que restou do Amor.
É das chagas da Dor que se tiram os melhores poemas, é do meio de Seus espinhos que se pode ver Deus, é pelo sangue derramado e emposado no chão que se pode fortalecer o coração. Cada parte do homem treme e arde à Dor e de um turbilhão ecoa sua voz que diz: "Me leva, Dor, me leva". A Dor é uma amante de noites frias e suas fantasias sexuais.
A Dor é o Caos. Dele tudo deriva. Cada sensação humana, cada gesto e emoção passou por Ela e se criou. Ai, daqueles que não entendem a Dor e evitam-na! Todos deviam sentir o quão divina Ela é.


Dedicado à Luana Justus, Dani Kafuri, Bethânia Vaz, Luma Verdeiro, Laís Comini, João Paulo Nóbrega, Thi, Fernanda, Francisco e Camilla Fukunaga por saberem me mostrar o melhor caminho e a Henrique Rodrigues Neto por me mostrar que não sou de pedra.