
Acordou sem saber que dia era, mas mesmo assim se levantou, ligou a TV sem saber que programa veria, mas mesmo assim continuou sentado no sofá, entregaram-lhe aquele sentimento sem que ele quisesse, mas mesmo assim segurou-o firme, talvez fosse sua única lembrança do que passou. Tinha medo, mas não sabia do que, queria ir, mas não sabia para onde, por isso escondeu-se no lugar onde estava.
Via um rosto flutuando, rindo irônico de sua decadência, não se importou com ele, ninguém considerava sua tristeza. Gastava palavras com o ar, a companhia que descobriu no silêncio. Dizia palavras que congelavam, caiam, derretiam no chão e inundavam a sala, sufocando-o. As garrafas da noite anterior ainda estavam jogadas pelos cantos, não tinha ânimo para jogá-las no lixo. O lixo estava dentro de si.
Chorou, ninguém sabe porquê. Lembrava que um dia ele amou, podia ser isso, o amor, a maior de todas as dores. Mas não se lembrava quem ele amou. Viu o rosto que ria, perguntou de quem seria. Andou por memórias, segundos, risos, parou e chorou. Não tinha forças para nadar na correnteza de sua voz tremida. Abriu devagar os olhos, vendo a sala vazia, sem o rosto que queria tanto ver. Fechou-os e dormiu.
Uma linda igreja a frente, o sol cantava entre as nuvens, sabia onde estava pela primeira vez em dias. Viu aquele rosto, que ria, mas sem o ver. Gritou um nome, mas as árvores altas rebateram o som. Gritou, gritou e o rosto não o via.
O rosto nunca lhe vira. Só ele, estúpido, vira-o. Em sua sala, quis fugir, agora sabia para onde. Para o passado, quando a vida dele acabou, quando ele se apaixonou. Percebeu que estava com fome, sem saber se era hora de almoçar ou jantar. Decidiu pela inércia mais uma vez. Xingou o dia em que nasceu. Malditos foram os dias que se sucederam a ele. A vida lhe fora injusta.
Nunca entendeu como se apaixonara, palavras frias foram capaz de quebrar duros cadeados, que pusera em seu coração para impedir fugas e entradas. Não percebera a fuga nem a invasão a princípio. Quando viu, achou que havia tempo e fugiu do contato. Mas já era tarde. Aí estava seu erro! Não podia ter fugido, não podia ter se escondido. Chorou, ao sentir seu rosto perplexo com a própria descoberta. Já ouvira que era impossível de se saber que ele fora dominado pelo amor. Se não tivesse fugido, o amor seria tão visível quanto a luz, ofuscante, ululante.
A dor o levantou no ar e prendeu-o na parede com pregos de suas lágrimas. Agora via, no sofá, ao lado do lugar em que estava sentado, a forma da solidão, a pior companheira nessas horas. A fuga para o passado era sua melhor saída. Fugiria e não conheceria ninguém. A vida teria outro sentido, se o mesmo que o anterior, ele não sabia. Mas um ano pelo menos talvez seria mais leve de se levar na memória.
Não se arrependera de ter se apaixonado, muito menos desistira, mas acreditava que pequenas escolhas mudavam vidas inteiras. Imaginou o que seria diferente, não escreveria as lindas histórias que escreveu, nem cantaria tão feliz músicas que não gostava, que o faziam sentir uma companhia melhor que a solidão. Concluiu que fora feliz como nunca seria se não tivesse a pequena escolha na memória.
Não era a tristeza que o fazia mal agora. Nem a solidão, que saíra de seu lugar de vigília. Mas o novo amigo que o tirava de sua prisão na parede e o pegava no colo, apresentando-se, dizendo seu nome, arrependimento. Sentados frente a frente, ouvia seus erros jogados na mesa da sala de visitas, ponderando-os um a um. Verdade que poderia ter dito, que poderia não ter fugido daquela presença, poderia ter pedido, poderia ter gritado, poderia ter contado que no seu celular há uma foto de um All Star azul, que houve uma briga por causa dela, e várias mensagens salvas para serem enviadas depois, poderia ter apagado tudo.
Até que a razão sentou-se à mesa e cochichou aos seus ouvidos para irem para cama, obedeceu desejoso, deitou-se ao lado da razão que contou mais verdades. Essa mostrou-lhe as suas palavras derretidas, dizendo que havia verdade em tudo que dissera e pensara, mas não havia necessidade para continuar uma amizade com o arrependimento. A pureza de tudo o que tinha passado deitou com eles na cama. A dureza da verdade deitou-se logo depois, cantando o fardo pesado que lhe fora entregue. Cantava esganiçada que talvez todas suas chances tenham se perdido no caminho da sala ao quarto, que ele não era o esperado, que ele não esperasse também e que andasse. Havia ainda esperança, parada na porta, chorava, e carinhosamente acariciou os cabelos dele, disse que talvez nunca conseguisse o que ele queria, mas o que fosse para ser, seria. Juntas, a razão, a pureza de tudo que ele tinha passado, a dureza da verdade e a esperança, o abraçaram e prometeram não permitir a proximidade da solidão, do medo, da tristeza, da dor e do arrependimento. Assim ele pode dormir.
Estava sentado num banco em frente a uma linda igreja, já passava das três horas, momento marcado para o encontro, o que faria, ele não sabia, mas seu coração parece ser um bicho dentro de seu peito. Reparava cada detalhe ao seu redor, olhava todo segundo para os dois lados. Então aquele rosto apareceu a sua esquerda, ele se levantou, não sabia se tirava os óculos, já tinha lhe dito que não gostava de conversar de óculos escuros, mas só riu.
Acordou, continuou sonhando e rindo de si mesmo.
“Estive lá, na sua presença,
Só pra saber o que você diria sobre nós.
O que te diz mais?”
Via um rosto flutuando, rindo irônico de sua decadência, não se importou com ele, ninguém considerava sua tristeza. Gastava palavras com o ar, a companhia que descobriu no silêncio. Dizia palavras que congelavam, caiam, derretiam no chão e inundavam a sala, sufocando-o. As garrafas da noite anterior ainda estavam jogadas pelos cantos, não tinha ânimo para jogá-las no lixo. O lixo estava dentro de si.
Chorou, ninguém sabe porquê. Lembrava que um dia ele amou, podia ser isso, o amor, a maior de todas as dores. Mas não se lembrava quem ele amou. Viu o rosto que ria, perguntou de quem seria. Andou por memórias, segundos, risos, parou e chorou. Não tinha forças para nadar na correnteza de sua voz tremida. Abriu devagar os olhos, vendo a sala vazia, sem o rosto que queria tanto ver. Fechou-os e dormiu.
Uma linda igreja a frente, o sol cantava entre as nuvens, sabia onde estava pela primeira vez em dias. Viu aquele rosto, que ria, mas sem o ver. Gritou um nome, mas as árvores altas rebateram o som. Gritou, gritou e o rosto não o via.
O rosto nunca lhe vira. Só ele, estúpido, vira-o. Em sua sala, quis fugir, agora sabia para onde. Para o passado, quando a vida dele acabou, quando ele se apaixonou. Percebeu que estava com fome, sem saber se era hora de almoçar ou jantar. Decidiu pela inércia mais uma vez. Xingou o dia em que nasceu. Malditos foram os dias que se sucederam a ele. A vida lhe fora injusta.
Nunca entendeu como se apaixonara, palavras frias foram capaz de quebrar duros cadeados, que pusera em seu coração para impedir fugas e entradas. Não percebera a fuga nem a invasão a princípio. Quando viu, achou que havia tempo e fugiu do contato. Mas já era tarde. Aí estava seu erro! Não podia ter fugido, não podia ter se escondido. Chorou, ao sentir seu rosto perplexo com a própria descoberta. Já ouvira que era impossível de se saber que ele fora dominado pelo amor. Se não tivesse fugido, o amor seria tão visível quanto a luz, ofuscante, ululante.
A dor o levantou no ar e prendeu-o na parede com pregos de suas lágrimas. Agora via, no sofá, ao lado do lugar em que estava sentado, a forma da solidão, a pior companheira nessas horas. A fuga para o passado era sua melhor saída. Fugiria e não conheceria ninguém. A vida teria outro sentido, se o mesmo que o anterior, ele não sabia. Mas um ano pelo menos talvez seria mais leve de se levar na memória.
Não se arrependera de ter se apaixonado, muito menos desistira, mas acreditava que pequenas escolhas mudavam vidas inteiras. Imaginou o que seria diferente, não escreveria as lindas histórias que escreveu, nem cantaria tão feliz músicas que não gostava, que o faziam sentir uma companhia melhor que a solidão. Concluiu que fora feliz como nunca seria se não tivesse a pequena escolha na memória.
Não era a tristeza que o fazia mal agora. Nem a solidão, que saíra de seu lugar de vigília. Mas o novo amigo que o tirava de sua prisão na parede e o pegava no colo, apresentando-se, dizendo seu nome, arrependimento. Sentados frente a frente, ouvia seus erros jogados na mesa da sala de visitas, ponderando-os um a um. Verdade que poderia ter dito, que poderia não ter fugido daquela presença, poderia ter pedido, poderia ter gritado, poderia ter contado que no seu celular há uma foto de um All Star azul, que houve uma briga por causa dela, e várias mensagens salvas para serem enviadas depois, poderia ter apagado tudo.
Até que a razão sentou-se à mesa e cochichou aos seus ouvidos para irem para cama, obedeceu desejoso, deitou-se ao lado da razão que contou mais verdades. Essa mostrou-lhe as suas palavras derretidas, dizendo que havia verdade em tudo que dissera e pensara, mas não havia necessidade para continuar uma amizade com o arrependimento. A pureza de tudo o que tinha passado deitou com eles na cama. A dureza da verdade deitou-se logo depois, cantando o fardo pesado que lhe fora entregue. Cantava esganiçada que talvez todas suas chances tenham se perdido no caminho da sala ao quarto, que ele não era o esperado, que ele não esperasse também e que andasse. Havia ainda esperança, parada na porta, chorava, e carinhosamente acariciou os cabelos dele, disse que talvez nunca conseguisse o que ele queria, mas o que fosse para ser, seria. Juntas, a razão, a pureza de tudo que ele tinha passado, a dureza da verdade e a esperança, o abraçaram e prometeram não permitir a proximidade da solidão, do medo, da tristeza, da dor e do arrependimento. Assim ele pode dormir.
Estava sentado num banco em frente a uma linda igreja, já passava das três horas, momento marcado para o encontro, o que faria, ele não sabia, mas seu coração parece ser um bicho dentro de seu peito. Reparava cada detalhe ao seu redor, olhava todo segundo para os dois lados. Então aquele rosto apareceu a sua esquerda, ele se levantou, não sabia se tirava os óculos, já tinha lhe dito que não gostava de conversar de óculos escuros, mas só riu.
Acordou, continuou sonhando e rindo de si mesmo.
“Estive lá, na sua presença,
Só pra saber o que você diria sobre nós.
O que te diz mais?”
2 comentários:
Muito bom, tanto o modo como escreve, sua estilísitca, quanto o feeling que o texto passa. Você conseguiu fazer de uma crônica um poema. Muito legal a forma como um dia se transformou em todo esse texto, toda essa vida?, muito bom, a frustração a ontologia, a superação, os ciclos, a inércia de nosso corpos, tudo muito bom. Volta a escrever, hein!?!!
Vooou voltar!! Tô empolgando!! haha
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