Nesses dias tem chovido muito, não saio de casa sem me molhar. A água escorre pelas ruas, pelos cantos, limpa, me limpa. Nesses dias, não vi o Sol, nem a Lua, os dias são escuros, as noites mais frias que o comum. Não me sinto triste, a chuva me refresca, me liberta, sinto paz por essas águas, Não me lembro do Sol, mas Lua me persegue, bate em minha porta, vou atendê-la e só vejo a água escorrendo, leve, me leva... O Sol não me faz sofrer, se escondeu nas nuvens e lá desistiu de viver, o Sol que outrora brilhou com força, deixando-me semi-morto em um deserto de emoções, sem água, sem paz, só luz, luz que maltrata a visão e impede a clareza de certas ideias, ele não me faz sofrer. O Sol não me machuca mais, esqueceu-se de mim, e minha saudade é a melhor forma de esquecimento. Mas a Lua vem, chama, clama, me tira da cama, dói. A Lua é repleta de sentimentos, a Lua chega a mim e pede ajuda, a Lua nunca me esqueceu. E eu, coitado, ia feliz pela chuva, muitas vezes sem ver dois metros a frente, eu, encharcado, esquecido dos dias e das noites, ignorava tudo e vivia nada. Lua, prateada, sem luz, iluminadora, apaixonada. Lua, essa que não me esqueceu, Lua, essa que me chama pelo nome e que a chuva encobre. Lunáticos pensamentos, vontade de sair de casa, soprar as nuvens e me banhar de Lua. A Lua me fez sorrir, me fez rir, me fez amar e a chuva me tirou seu hálito, fresco hálito noturno que me fez ver tudo com clareza. Ouço a voz que chora, não chore... Confundo-me, Sol, Chuva, Lua. Lua e Chuva. Sol depois da Lua. Lua que leva a maré, Lua que dispõe as estrelas no céu, Lua que some e volta, triste Lua que morre a cada dia, fardo grande o seu e o meu maior, o meu é amar a Lua. Destrua-me, Lua, consuma-me, queime, arraste, ame-me!